segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Inconveniências: um culto diferente

Será que deixariam ele pregar em um congresso estadual?


O pastor entrou em pânico quando aquele pregador, convidado pela mocidade mas ainda um desconhecido a ele, subiu ao púlpito para trazer a Palavra, mas inesperadamente, passou o sermão da noite para que Jesus Cristo pregasse, pegando a todos de surpresa.

Todos os irmãos da igreja quando chegam na igreja, no domingo a tarde, para o tradicional “momento-religioso-para-nos-sentirmos-menos-culpados” podem perceber o Mestre, no canto da entrada. Ele, o Messias, fica ali às portas do templo, sentado no segundo degrau da escada de porta, desde que a membresia é capaz de lembrar. Os mais antigos são capazes de jurar, não fosse isso pecado, que um dia Ele já esteve nesse ofício de pregação, embora hoje a ideia pareça bem pouco provável. O que o Espírito dEle poderia fazer no púlpito? Isso soava estranho àqueles dali.

-Ele vai despregar tudo que é pregado aqui! - gemeu o mega-pastor, enquanto dava tapinhas em seu topete a lá Elvis, tentando manter aquela obra de arte edificada pelo gel. O pregador, assim como toda a mocidade, esperavam ansiosos pela aproximação do Messias, que vinha pelo corredor da Igreja, em direção ao púlpito, como se fosse algo que sempre fizesse. (Houve gente que podia jurar que o pastor, de duas, uma: ou se afogaria no suor frio que escorria pela pele repentinamente pálida, ou que orava para que Ele retirasse sua vida para não ter que enfrentar aquela afronta em seu ponto de pregação).

A preocupação do tal reverendo tinha fundamento: ele selecionava muito bem os temas de seu púlpito, sabia que tipo de plateia frequentava seu templo, e astuto, conhecia o que cada um deles queria – e não queria - ouvir. Quando aquela ovelha problemática não fazia o que ele esperava, programava um sermão que enchia de culpa seu alvo, sabendo que o mesmo não conseguiria permanecer na congregação. Quanto aos que ele queria manter na comunidade, aqueles que promoviam a sustentabilidade com seus gordos dízimos e ofertas, sempre tinha uma palavra de consolo, de ânimo, até contra o próprio Espírito, quando este incomodava-os quando se encontravam em pecado.

-Sei que Ele poderá dizer coisas boas e agradáveis ao meu negócio, - arrazoava o pastor consigo mesmo - mas pode também dizer algo que incomode as ovelhas que há tanto tempo venho mantendo aqui, não com pouco zelo... A angustia era tamanha que não se conteve diante do Filho de Deus e disse, quando ele subiu ao local da pregação (embora não tenha aceitado usar o microfone):

-Que temos nós contigo?! Vieste nos atormentar antes do tempo, Jesus de Nazaré? - gritou o pastor, diante da congregação. Boa parte deles não sabia a quem pertenceu originalmente a declaração feita, mas o próprio pastor, boquiaberto, sentou-se na cadeira atrás do palanque. Caindo em si, buscava lembrar em que ponto mais baixo de seu ministério tinha se tornado aquele que recitava as falas de Legião como lamento de sua própria alma.

Quando o Cristo colocou-se diante do povo, não foram poucos os que abandonaram o local: aquilo realmente os intimidara, outros que se atreveram a ficar, apesar do crescente pavor, encolhiam-se em posição fetal nas confortáveis poltronas, como se o que estivessem para ser esmagados pelo que fosse dito ali. Achavam que poderia vir fogo, ou ventania, quem sabe terremoto?

Em contraste, alguns foram invadidos por um interesse repentino pelo assunto que seria ali abordado, mesmo sem imaginar o que poderia ser. Um ar saudoso os invadiu, como se os velhos tempos do primeiro amor pudessem apagar todos os anos em que se calcificaram em suas frustrações cotidianas, cínicas e religiosas da vivência com as organizações e suas politicagens.

O pregador então alegrou-se quando Jesus tomou a palavra, despreocupado com os tais possíveis prejuízos, onde as conveniências pessoais não tem vez. Ele sabia que o Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, estaria ali para edificação de sua Casa, correção das ovelhas e extermínio das matilhas.

O que Ele pregou? Oras! Você sabe: a Palavra dele não muda, e não houve inclusões de novos versículos inéditos ali, isso nunca foi necessário. Mas tenha certeza que quando é permitido que Ele seja a Cabeça de seu corpo, certamente não há realmente o que uma ovelha temer. Há apenas com o que se alegrar.

Fonte: Genizah

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