Acho curioso que o homem gaste toda a vida tentando acumular coisas, pois, nu veio ao mundo, e nu sairá dele. Levará consigo tudo aquilo que é e deixará para trás tudo aquilo que possui.
Neste sentindo, a existência é mesmo implacável. Talvez por isso o sábio tenha se desiludido: “percebi ainda outra coisa debaixo do sol: os velozes nem sempre vencem a corrida; os fortes nem sempre triunfam na guerra; os sábios nem sempre têm comida; os prudentes nem sempre são ricos; os instruídos nem sempre têm prestígio; pois o tempo e o acaso afetam a todos”. Ec. 9:11.
De fato, a vida parece, às vezes, um jogo de sorte ou azar, uma roleta russa ou uma mesa de pôquer. Viver é blefar! Não sei você, mas eu já me senti muitas vezes como marionete do destino, como joguete das circunstâncias, como coadjuvante da história, como passageiro num trem desgovernado apenas esperando o momento do descarrilamento.
Alguém já me disse que eu deveria viver cada dia como se fosse o último. Horácio, o grande poeta latino, cunhou a famosa expressão Carpe Diem – aproveite o momento – e isso pelo fato de que ele jamais voltará novamente. É o mesmo que fala o salmista no salmo 90. Ele nos ensina a contar os nossos dias de tal forma a alcançarmos corações sábios. Quem conta dias aprende a guardar suas lembranças, pois cada acontecimento deixa de ser banal ou corriqueiro; passa a ser único, singular.
Sim... Lembranças... Eu as tenho... Haverá um tempo que elas serão tudo o que me restará na vida. Creio que em alguns anos eu estarei sentado numa cadeira de balanço, ouvindo a orquestra de pássaros a cantar no final da tarde enquanto o sol se põe lentamente no horizonte. Quando este momento chegar, espero que minhas lembranças sejam como uma tapeçaria, um crochê que desvele uma vida boa, permeada de graça e misericórdia. Ainda assim, eu sei que a esta altura eu terei experimentado mais tristezas que alegrias, mais o não do que o sim, mais a lágrima que o sorriso, mais a perda que o ganho.
Flávio Venturini, em sua poesia, afirma que sonhos não envelhecem. É verdade. Sonhar talvez seja uma das melhores coisas da vida. Você pode sonhar toda uma existência com algo e ainda assim o seu sonho continuar novo. Albert Schweitzer nos ensina: “a tragédia do homem é o que morre dentro dele enquanto ele ainda está vivo”. Por isso eu lhe suplico, não morra com os seus sonhos. Se for possível, torne-os realidade!
Certa vez um homem de Deus me disse que o lugar mais rico da terra era o cemitério. Ele afirmou que lá estavam enterrados os sonhos dos homens, e sonhos são o grande tesouro da vida. De fato, no cemitério estão enterrados livros que nunca foram escritos, canções que nunca foram compostas, poesias que nunca foram proferidas, amores que nunca foram vividos, desejos que nunca foram satisfeitos.
Por isso, sonhe meu amigo, enquanto ainda há tempo! Sonhe “antes que se rompa o cordão de prata, ou se quebre a taça de ouro; antes que o cântaro se despedace junto à fonte, e a roda se quebre junto ao poço”. Ec. 12:6
Espero ao final da vida apenas duas coisas: que minhas lembranças reflitam a saga de um homem que andou com Deus no chão da Terra, com erros e acertos, virtudes e fracassos; e que, apesar da falta de forças, da pouca visão, das rugas na face e dos cabelos embranquecidos, marcas que o tempo se encarregará de esculpir no meu corpo, meus sonhos continuem pulsando dentro em mim, pois jamais quero perder o desejo de encontrar com o meu Senhor, de receber aquele abraço que só os filhos ganham quando retornam para casa.
Carlos Moreira
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