Segundo a pesquisa, o brasileiro passa pelo menos uma hora por dia nas redes e 60% estão nelas há três anos. A preferida (91%) é o Orkut, contra 14% para o Facebook, líder em quase todo o resto do mundo.
O levantamento, aliás, mostra que, embora o Orkut ainda tenha um domínio imenso na "internet brasileira", o viés é de queda. Segundo a pesquisa "Many to Many", do Ibope, entre as pessoas que estão nas redes sociais, 50% usam o Orkut menos do que antes, enquanto 20% mantém o mesmo padrão e 30% acessam mais.
- O Orkut ainda não teve perda de participação. Há sim uma flutuação natural, mas não houve queda grande com o crescimento do Facebook. Ou seja, as pessoas acessam as duas redes e até o Twitter também - afirma Juliana Sawaia, gerente de inteligência de mercado do Ibope Mídia.
Mas por que o brasileiro escolheu logo o Orkut, que foi lançado em janeiro de 2004, meses antes do Facebook? Para Raquel Recuero, professora da ECOS/UCPelotas, foram três motivos principais: fator novidade, interface e adequação aos nossos hábitos culturais.
Outra explicação interessante vem de John Perry Barlow, letrista do Grateful Dead e guru da internet. Em um vídeo gravado em 2008, Barlow afirma ter sido chamado para o Orkut logo no início. Curioso quanto ao impacto que a ferramenta teria num país sociável como o Brasil, enviou todos os seus 99 convites para brasileiros.
Barlow lembra que, além de simpáticos, somos também muito competitivos. E, uma vez no Orkut, competimos pelo número de amigos, número de comunidades, por quem tinha mais corações e estrelas (lembra?), entre outras disputas mais ou menos nobres.
Acabamos competindo também para ser o país mais popular no site. Em 23 de junho de 2004, o Brasil ultrapassou os EUA e se tornou o maior país no Orkut.
Naquela época, a maioria dos acessos ao Orkut no Brasil ainda vinha de universitários. Durante anos, aliás, o Facebook sequer era uma opção para os brasileiros. E o Orkut, sem concorrência, seguia crescendo de forma caótica.
Quando o Facebook começou a ser "descoberto" por aqui, em 2007, deparou-se com um território já ocupado. Mas teve um grande trunfo: as pessoas estavam descobrindo que a festa de adicionar centenas de desconhecidos não era assim tão divertida. Na média, cada orkuteiro tem nada menos que 273 amigos.
- No início, todo mundo adicionou todo mundo no Orkut porque era legal ter milhões de amigos. Mas aí perceberam que não queriam que desconhecidos vissem certas informações e foram apagando - lembra Raquel.
Com o crescimento da preocupação com a privacidade nas redes sociais, o Orkut acabou perdendo um pouco da característica batizada por Raquel de "navegação social".
Orkut também se moderniza para não perder espaço
Migrou-se para o Facebook pela ilusão da privacidade e, claro, os jogos. Hoje o maior trunfo da rede de Mark Zuckerberg não são as pessoas, mas os aplicativos. Tanto jogos, como "FarmVille" e "Mafia Wars", quanto testes sobre qual personagem da série "Crepúsculo" você seria, por exemplo. E todos esses aplicativos acabam coletando algum tipo de informação dos perfis dos usuários.
- As pessoas têm usado menos o Orkut. Muita gente vai para o Facebook, pois ele tem mais atrativos - argumenta Raquel.
Mas Juliana Sawaia, do Ibope, defende que o crescimento de um não significa a queda do outro. Ela cita a pesquisa do Ibope, onde o Orkut surge como porta de entrada na web para 82% dos internautas que acessam redes sociais no Brasil. E todos sabemos como é difícil deixar os velhos hábitos.
- O Orkut ainda é muito grande: 91% dos internautas acessam - diz a analista.
Raquel Recuero também aponta problemas para a adoção do Facebook no Brasil. As principais barreiras seriam o custo social de ir para uma rede onde os amigos ainda não estão cadastrados, a dificuldade de se gerenciar contas de sites diferentes e a própria interface.
- A interface é difícil em comparação ao Orkut, onde era muito simples ver a rotina dos amigos.
Mas o Orkut também mudou, caminhando na direção das redes sociais mais "modernas". Ganhou mais espaço para fotos, vídeos, fechou os perfis, criou aplicativos e jogou as comunidades lá para baixo da página. Não por acaso, está cada vez mais parecido com o Facebook.
Fonte: O GLOBO
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